30/09/2012

O meu Alzheimer...




Isto, para começar, merece um pianinho… imaginem todos, aquele som que toca sempre quando se vai contar uma fatalidade, na televisão, as pessoas do público que recebem 25 € para bater palmas, porque não podem bater no Goucha, ficam altamente comovidas e algumas conseguem chorar, tal é a força do som do pianinho, óbvio. Fui ao Dr. Google, sim, o médico à distância de um clique sem sair de casa, que nós tanto gostamos de “ir” e que quase sempre apresenta resultados do género “Com esses sintomas, vai morrer tão depressa, que não vai ter tempo de desligar o computador sequer.” SOCORRO! A sério. Nós adoramos resolver quase tudo, com um: “Vai à net”. E fim de conversa. Agora no que toca a doenças, vai lá vai… é uma pessoa pesquisar o nome da coisa, por um sintoma ou dois que realmente sente no corpinho e aparecem escritos em negrito itálico, dois outros, que só de os lermos, automaticamente começamos a senti-los e o “dirija-se ao seu médico de família”, já é lido com a visão turva. Estou a exagerar?! É porque vocês são uns saudaveizinhos. O que é certo, é que o meu problema não tem solução e normalmente aparece nas pessoas a partir dos 60 anos. Tenho “alzheimer-infanto-júnior-adolescente-sénior-veterano”. Ora, portanto, desde pequena e até ser velha, já estou a prever o futuro, é crónico, e é difícil explicar e fazer alguém acreditar que se sofre deste mal, sem que exclame um “Estás a falar a sério?!”… Não, então não vês que enquanto te estou a dizer isto, brinco com a barbie miami, dado que o ken foi às compras e ela não consegue estar sozinha, porque deprime e depois descarrega no cartão Visa dele. Really?! Mesmo, mesmo?! Farto-me.

Então agora começa a ser assim, sempre que venham ter comigo com histórias da primária ou com conversas que se passaram há uma semana, não esperem que eu me lembre, e se a nossa querida troca de palavras acabar comigo a dizer: “Ah, sim já estou a ver”! Significa que não faço a mais pequena ideia do que estão a dizer e que provavelmente quando derem costas ou eu me afastar, chamo-vos três ou quatro nomes, sem ser mãe, nem pai. Sim. O meu cérebro falha numa parte, mas tem outras que são altamente compensadas, para que eu possa ser uma pessoa equilibrada.

Sei as letras das matrículas dos carros de conhecidos e não só, mas não sei quando foi a minha primeira menstruação. Sei de cor números de telefones fixos, muitos deles que já não existem, mas não sei o último ano que o meu sporting ganhou o campeonato. Se como eu, há por aí algum pimpolho que sofra desta espécie de “alzheimer-infanto-juvenil-adolescente-sénior-veterano” , chamo-lhe assim, só para ter algo concreto para me reconfortar, mesmo que não me lembre, está à vontade para vir ter comigo, tenho a certeza que será uma partilha de experiências jamais esquecida. Divido também, o toque do pianinho. Credo, ainda brinco com isto. Bom, poderemos criar um grupo no facebook e apadrinhar mais espécimes alzheimerescas, mas tudo dentro desta categoria. Respeitinho aos que nem o nome às vezes sabem, que eu um dia posso chegar a isso. Já vi o caso mais longe. Regra geral, vivo bem com isto. Regra geral, vivo mal com isto. Uma pessoa nunca se esquece de como se anda de bicicleta, é verdade. - Oh mãeeeeee, com quantos anos aprendi a andar de bicicleta?? Quem me ensinou??

P.S.- Ainda há quem me relembre todos os dias, que existe e que está sempre comigo.

Mó de Moreira

2 comentários:

  1. Pois é,foi precisamente na escola primária que aprendeste..entre o jardim da porta-nova e a rua do amparo(não sei se estás a ver onde ficam??)tinhas seis anos, e foi a mãe que te ensinou.Observação:já não tinhas "rodinhas" na bicicleta, mas andavas,como se as tivesses...j´estavas na fase"alzeimer-infanto"..

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    1. Muito melhor que o ultimo que tinhas escrito, tem um sentido muito critico a todos os concursos televisivos, com assistências pagas "25 eur" e que já os conhecemos de os vermos nos mais diversos concursos.

      Um beijo

      J.C.

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