Vizinhança...

Como é que eu, euzinha, toco à campainha do meu vizinho, espero que ele me abra a porta e lhe digo, em tom de Pedro Boucherie Mendes, "tu estás para a música, como o Roberto Leal e o António Sala estão para a publicidade, um SANDY!", sem ferir susceptibilidades?! Como é que se pode dizer a alguém que por favor pare de assassinar as músicas dos Xutos, quando ele próprio acha que as canta melhor que o Tim, é praticamente impossível. Ninguém admite uma coisa destas, as pessoas são levadas a acreditar que cantam bem,  porque o primo lhe disse ou o cão. É o suficiente para vir uma casa a baixo, podendo a desgraçada estar bem de pé. É tempo perdido, dizer-lhe o contrário.

Temos a prova disso, sempre que há programas de entretenimento nesta área. Há os melhores, os razoáveis, os que se ouvem em dias bons, os que se ouvem em dias maus, os piores e os que já depois de muitos pedidos para se calarem, têm que ser abatidos a tiro. 

Lá está, são estes últimos, que são tão maus, tão maus, tão maus, que se voltam contra o jurí, contra o mundo, com ameaças e ofensas. A maioria acaba a dizer: "Não vou desistir do meu sonho, ainda no Natal passado, a minha tia avó, jurou ir mudar a pilha ao aparelho dos ouvidos, porque sempre que eu canto, ela entra em transe e não ouve nada, mas sente, e é isso, que me faz seguir em frente, perceber que nasci para isto, não são vocês que me fazem desistir para aí assim, seus..."

Agora digam-me lá, sou eu que vou estragar o momento ao meu vizinho???

Tudo indica que sim. 

Mas o meu maior medo é que ele me abra a porta, me apareça vestido com um robe com cornucópias até aos joelhos, meias arregaçadas a meio da canela, com a viola debaixo do braço e me pergunte se quero assistir ao concerto ao vivo. Medo, muito medo.

Isto não passou de um mero desabafo, caro vizinho, aqui só para nós... era do caraças se o apanhasse por aqui a ler isto.

Mó de Moreira